Açucarado
No Rock In Rio, Helloween reduz turnê que reúne integrantes de várias fases com ênfase em período mais relevante para a difusão do metal melódico. Fotos: Vinicius Pereira.
Mas nem tudo são flores, e, como se sabe, o tempo de show é bem pequeno - uma horinha só - ainda mais se consideramos que os shows do Helloween nesse giro chegam a quase três horas de duração. É fácil imaginar que com três vocalistas se revezando é possível que, nesse tempo todo, ninguém perca o gogó. Explica-se que estão no palco assumindo os microfones Kai Hansen, também guitarrista, membro fundador, de carreira extensa com o Gamma Ray; Michael Kiske, o titular da reconhecidamente mais relevante e influente fase da banda como propulsora do heavy metal melódico mundo afora; e Andi Deris, no posto já há 25 anos, mas sempre questionado por não ter o alcance – pode isso? - da voz de Kiske.
Pois juntos, e nessa Pumpkins United World Tour, é justamente Deris que perde protagonismo, já que as músicas das fases anteriores a ele são muito extensas e apenas duas em que ele canta entram na versão abreviada. O que, de outro lado, é verdadeiro deleite para fãs de longa data que jamais imaginaram ver o Helloween ao vivo com Michael Kiske cantando – e cantando bem – em nada menos que seis músicas dos idolatrados, com muita justiça, diga-se, álbuns “Keeper of the Seven Keys”, partes 1 e 2, lançados respectivamente em 1987 e 1988, fase chamada carinhosamente de “era Keepers”. Para se ter uma ideia do achatamento do repertório, até o single “Pumpkins United”, composto por essa formação especialmente para a turnê, é limado do show.E aí a cantoria se espalha pela Cidade do Rock muito facilmente, em músicas como “Future World”, com os três guitarristas – além de Hansen, Michael Weikath e Sascha Gerstner – debulhando as cordas em alta velocidade e elevando o conceito de metal melódico ao extremo, com atraente coreografia ensaiada; “Eagle Fly Free”, em que Kiske deita e rola nos trechos mais altos, e dessa vez ele canta sozinho em muitas músicas, diferentemente do que aconteceu no show de mesmo repertório do Rockfest, em São Paulo (veja como foi); e “Dr, Stein”, cujo riff de cara desencadeia um bater de cabeça ensaiado no público, e, aí, sim, com a participação de Deris em dueto com Michael Kiske. No fundo, um louco Daniel Loble se desdobra para esmurrar quatro bumbos de uma bateria germinada dentro de uma abóbora partida.
Curiosamente, há um decréscimo de palco, subtraído da plataforma que avança no meio do público, o que prejudica o desfile de guitarras. Mas o três tocam juntos o tempo todo, em qualquer evolução das músicas e ainda enfatizam essa coreografia nos solos, sempre um deleite de performance física e visual. Com Hansen na voz principal, eles desenterram clássicos do passado amplamente inesperados, como “How Many Tears”, em um espetáculo de guitarra poucas vezes vistos no heavy metal contemporâneo, e em “Ride the Sky”, na qual ele e Weikath travam um duelo a vera. A fase Deris, de fraque, cartola e bengala, é representada pela saltitante “Perfect Gentleman” e com “Power”, surpreendentemente bem recebida e cantada a plenos pulmões. O arremate, em “I Want Out”, é uma mistura de tudo: vocais altos, refrão cantando por todos, solos melódicos em coreografia ensaiada, incluindo o baixista Markus Grosskopf e por aí vai. Ou seja, o Helloween em sua mais doce essência.Set list completo:
1- I’m Alive
2- Dr. Stein
3- Eagle Fly Free
4- Perfect Gentleman
5- Ride the Sky
6- A Tale That Wasn’t Right
7- Power
8- How Many Tears
9- Future World
10- I Want Out
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