O Homem Baile

Açucarado

No Rock In Rio, Helloween reduz turnê que reúne integrantes de várias fases com ênfase em período mais relevante para a difusão do metal melódico. Fotos: Vinicius Pereira.

Somos amigos: Andi Deris é abraçado por Michael Kiske no início do show do Helloween

Somos amigos: Andi Deris é abraçado por Michael Kiske no início do show do Helloween

Três guitarristas muita banda tem por aí – e o Iron Maiden é o exemplo mais bem-acabado entre as atrações dessa edição do Rock In Rio -, mas quem traz a reboque três vocalistas, de fases diferentes, reunidos em um único show, do tipo “vamos ser felizes todos juntos”? Pois é esse o grande apelo para a apresentação que o Helloween fez no Palco Mundo do festival, nesta sexta (4/10). Para tanto, contou com o acaso, já que só entrou no elenco depois do cancelamento do Megadeth por motivos de saúde do vocalista Dave Mustaine. O que acabou abrindo uma oportunidade para vir ao Brasil ainda dentro da turnê “Pumpkins United” e tocar como espécie de “bônus” para os fãs do Maiden, já que uma banda, não é exagero dizer, deriva da outra, e a interseção de entusiastas delas tem considerável tamanho.

Mas nem tudo são flores, e, como se sabe, o tempo de show é bem pequeno - uma horinha só - ainda mais se consideramos que os shows do Helloween nesse giro chegam a quase três horas de duração. É fácil imaginar que com três vocalistas se revezando é possível que, nesse tempo todo, ninguém perca o gogó. Explica-se que estão no palco assumindo os microfones Kai Hansen, também guitarrista, membro fundador, de carreira extensa com o Gamma Ray; Michael Kiske, o titular da reconhecidamente mais relevante e influente fase da banda como propulsora do heavy metal melódico mundo afora; e Andi Deris, no posto já há 25 anos, mas sempre questionado por não ter o alcance – pode isso? - da voz de Kiske.

O baixista Markus Grosskopf e os guitarristas Sascha Gerstner e Kai Hansen, que também canta

O baixista Markus Grosskopf e os guitarristas Sascha Gerstner e Kai Hansen, que também canta

Pois juntos, e nessa Pumpkins United World Tour, é justamente Deris que perde protagonismo, já que as músicas das fases anteriores a ele são muito extensas e apenas duas em que ele canta entram na versão abreviada. O que, de outro lado, é verdadeiro deleite para fãs de longa data que jamais imaginaram ver o Helloween ao vivo com Michael Kiske cantando – e cantando bem – em nada menos que seis músicas dos idolatrados, com muita justiça, diga-se, álbuns “Keeper of the Seven Keys”, partes 1 e 2, lançados respectivamente em 1987 e 1988, fase chamada carinhosamente de “era Keepers”. Para se ter uma ideia do achatamento do repertório, até o single “Pumpkins United”, composto por essa formação especialmente para a turnê, é limado do show.

E aí a cantoria se espalha pela Cidade do Rock muito facilmente, em músicas como “Future World”, com os três guitarristas – além de Hansen, Michael Weikath e Sascha Gerstner – debulhando as cordas em alta velocidade e elevando o conceito de metal melódico ao extremo, com atraente coreografia ensaiada; “Eagle Fly Free”, em que Kiske deita e rola nos trechos mais altos, e dessa vez ele canta sozinho em muitas músicas, diferentemente do que aconteceu no show de mesmo repertório do Rockfest, em São Paulo (veja como foi); e “Dr, Stein”, cujo riff de cara desencadeia um bater de cabeça ensaiado no público, e, aí, sim, com a participação de Deris em dueto com Michael Kiske. No fundo, um louco Daniel Loble se desdobra para esmurrar quatro bumbos de uma bateria germinada dentro de uma abóbora partida.

Hansen e o também importante guitarrista Michael Weikath, dois dos fundadores do Helloween

Hansen e o também importante guitarrista Michael Weikath, dois dos fundadores do Helloween

Curiosamente, há um decréscimo de palco, subtraído da plataforma que avança no meio do público, o que prejudica o desfile de guitarras. Mas o três tocam juntos o tempo todo, em qualquer evolução das músicas e ainda enfatizam essa coreografia nos solos, sempre um deleite de performance física e visual. Com Hansen na voz principal, eles desenterram clássicos do passado amplamente inesperados, como “How Many Tears”, em um espetáculo de guitarra poucas vezes vistos no heavy metal contemporâneo, e em “Ride the Sky”, na qual ele e Weikath travam um duelo a vera. A fase Deris, de fraque, cartola e bengala, é representada pela saltitante “Perfect Gentleman” e com “Power”, surpreendentemente bem recebida e cantada a plenos pulmões. O arremate, em “I Want Out”, é uma mistura de tudo: vocais altos, refrão cantando por todos, solos melódicos em coreografia ensaiada, incluindo o baixista Markus Grosskopf e por aí vai. Ou seja, o Helloween em sua mais doce essência.

Set list completo:

1- I’m Alive
2- Dr. Stein
3- Eagle Fly Free
4- Perfect Gentleman
5- Ride the Sky
6- A Tale That Wasn’t Right
7- Power
8- How Many Tears
9- Future World
10- I Want Out

Ao lado de Grosskopf, Kiske manda o conservado vocal que mantém a perfeição nas notas mais altas

Ao lado de Grosskopf, Kiske manda o conservado vocal que mantém a perfeição nas notas mais altas

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