O Homem Baile

Território marcado

No aniversário de lançamento de álbum clássico, Epica consolida séquito de fãs em show marcante no Rio. Fotos: Daniel Croce.

A vocalista do Epica, Simone Simons, em toda a sua plenitude, segue cantando muito bem

A vocalista do Epica, Simone Simons, em toda a sua plenitude, segue cantando muito bem

Súbito, a banda deixa o palco para a performance solitária da vocalista, que, a bem da verdade, já vinha brilhando durante toda a noite. Ela tem, contudo, e de modo quase inédito, a companhia de um leve teclado que faz a voz ecoar com suavidade ainda mais contagiante. O facho de luz que realça curvas e cabelos esvoaçantes tem como resposta lanternas acessas pelo público, e está feita a cena mais que perfeita para que Simone Simons mostre toda a doçura de uma voz que há anos conquista o mundo – o do heavy metal em particular – antes que a banda volte e com ela o peso intrínseco ao gênero, para um desfecho de emocionar. É assim que “Tides Of Time” se converte em um dos melhores momentos do show do Epica neste domingo (27/10) no Circo Voador, no Rio.

A música, ausente nos frequentes shows da banda na cidade nos últimos anos (relembre 2018, 2015, 2012 e 2010), entra no repertório porque essa turnê comemora (mas já?) o aniversário de 10 anos do lançamento do álbum “Design Your Universe”, muito embora não tenha sido tocado a íntegra da músicas do disco. No fundo, no fundo, nem precisou, e, em quase duas horas de show, ainda deu para encaixar músicas representativas de outros álbuns, incluindo aquele bis que todo mundo já sabe que vai acontecer. Todo mundo mesmo, já que impressiona a quantidade de fãs que a banda reúne no Rio de Janeiro, considerando que a turnê mais recente deles que passou por aqui foi no ano passado, no mesmo local e com a casa igualmente cheia, façanha que poucas banda do gênero conseguem.

O tecladista Coen Janssen, de posse de um vistoso keytar, Simone e o guitarrista Isaac Delahye

O tecladista Coen Janssen, de posse de um vistoso keytar, Simone e o guitarrista Isaac Delahye

O que dá à relação público/banda certa intimidade a ponto de vários dos integrantes se arriscarem no português, e até a Simone a iniciativa de comandar um “wall of death”, quando o público se divide em duas partes para depois se chocar um com os outros, em “Consign to Oblivion”, a eterna peça de encerramento que de fato enlouquece geral, com direito a uma bandeira do Brasil agitada por Simone na beirada do palco; e como fãs gostam gosta disso. Em “Sancta Terra”, outra que não falta em show algum do Epica, é o tecladista Coen Janssen, de posse de um vistoso keytar em formato semiesférico, que desce no vão entre o público e a grade para deixar um ou outro incauto tocar na teclas. Ele segue como o mais exagerado nas fanfarronices da banda que, se de um lado demonstram simpatia, de outro passam impressão de cansaço geral dos músicos com o meio musical ao qual pertencem.

Outra que retorna ao repertório, e de forma contundente, é “Unleashed”, logo no começo do show, com ênfase em guitarras pesadas e com o volume do PA ajustado lá no alto. É a primeira em que o público manda aquela coreografia de braços erguidos, cantando o ótimo refrão juntinho com a banda. A abertura, com “Resign to Surrender”, muito a custa de o som estar em teste, por assim dizer, não é das melhores, mas é o preço que se pagar em turnês comemorativas de álbuns, sempre entra uma ou outra música que, se não fosse por esse motivo, não estaria no set. O que não é o caso da obrigatória “Kingdom Of Heaven”, uma peça do metal progressivo contemporâneo dividida em cinco, seis partes, todas tocadas com incrível precisão. Como aliás, essa formação do Epica, consolidada em 2012, com a entrada do baixista Rob van der Loo, vem fazendo.

O baixista Rob van der Loo, o mais novo nessa formação do Epica, e o baterista Arien van Weesenbeek

O baixista Rob van der Loo, o mais novo nessa formação do Epica, e o baterista Arien van Weesenbeek

E - é bom que se registre - de forma leve, a ponto de passar a impressão de que são os integrantes, eles próprios, os que mais se divertem. O guitarrista Isaac Delahye, por exemplo, é puro entusiasmo ao mirar um ou outro fã cantando um trecho de música no meio do público. Mark Jansen, o outro guitarrista e fundador, é a base de tudo, inclusive na dicotomia vocais rasgados x líricos tão interessante na banda e no metal como um todo. O baterista Arien van Weesenbeek, de seu lado, parece improvisar no curto solo ao término de “Cry For The Moon”, depois de ótima sequência instrumental. A música – e não é de hoje – é uma das mais cantadas no show, em outros daqueles momentos com punhos erguidos que só o heavy metal pode proporcionar. Um show realmente consagrador para o Epica, que consolida uma boa base de fãs no Rio. Resta saber como a banda irá se comportar um em novo álbum de inéditas, que parece o caminho a seguir.

Set list completo:

1- Resign to Surrender
2- Unleashed
3- Martyr of the Free Word
4- Our Destiny
5- Kingdom of Heaven
6- In All Conscience
7- The Price of Freedom
8- Burn to a Cinder
9- Tides of Time
10- Cry for the Moon
11- Design Your Universe
Bis
12- Sancta Terra
13- Beyond the Matrix
14- Consign to Oblivion

O guitarrista e fundador do Epica, Mark Jansen, Isaac Delahye, Simone Simons e Coen Janssen no fundo

O guitarrista e fundador do Epica, Mark Jansen, Isaac Delahye, Simone Simons e Coen Janssen no fundo

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