Máquina azeitada
Formação consolidada do Arch Enemy garante show cheio de novidades e grande adesão do público. Fotos: Daniel Croce.
É a “Latin American Siege 2022”, e, talvez pelo fato de já ter rodado o Brasil por duas vezes com essa formação (relembre 2018 e 2015), a banda não se faz de rogada e desanda a tocar músicas do novo álbum, o bom “Deceiver”, lançado há três meses, preenchendo quase a metade do set. Entre elas, destacam-se ao menos outras duas: “Handshake With Hell”, em que Alissa White-Gluz, a tal vocalista acostumada a cuspir tijolos enquanto canta, arrisca vocais limpos – novidade -, duelando por assim dizer, com si mesma; e a nervosa, mas colante “The Watcher”, cujo refrão entupido de guitarras melódicas e açucaradas faz a plateia cantar como se fosse uma das antigas, e acarreta até em rodas de dança no meio do salão. A primeira tem forte inspiração no também sueco Yngwie Malmsteen, e a segunda, bem, a segunda já nasce clássica.
O “também sueco” ali em cima se refere aos três quintos da banda, liderada pelo guitarrista Michael Amott, que – e não é e hoje – brilha em duelos, evoluções e transes melódicos de todo o tipo com Jeff Loomis, o yankee de serviços prestados ao Nevermore. Dessa vez, contudo, um momento solo lhe é concedido, na parte final do show, antes da instrumental “Snow Bound”, resgatada do álbum “Wages of Sin” de 2002. Mas é o entrosamento da dupla de guitarristas, que segue afiada, que aparece música após música, sem economias de tudo o que se espera do instrumento em um ramo extremo da música pesada como esse. O que eles fazem em “As the Pages Burn”, com direito a duelos nervosos na beirada do palco, e na já clássica “War Eternal”, por exemplo, não está no gibi.Soltinha, Alissa lidera a banda como nunca, o que reforça o bem que faz manter a formação de uma banda por cerca de oito anos, gravando discos e fazendo turnês. Além de saracotear pelo palco entre subidas e descidas de plataformas, manda um ousado “Tudo bem, cariocas?”, em bom português, no início da noite; faz espécie de “Live” ao gravar a performance da banda e do público com um aparelho, em “My Apocalypse”; e tem o auge interativo ao comandar um duelo de guitarras de Amottt com o cantarolar do povaréu em “Sunset Over the Empire”, outra das novas músicas incluídas no set, que, assim, parece conhecida de longa data. Nada que supere a capacidade dessa mulher, de acanhada compleição física, vomitar versos de arame farpado por mais de uma hora sem parar.
A essa altura a cozinha formada pelo cascudo baixista Sharlee D’Angelo, um dos nomes mais rodados/requisitados da música pesada, e pelo baterista Daniel Erlandsson pode parecer não importar tanto. Mas é justamente na discrição da dupla (de Erlandsson e suas viradas peculiares nem tanto) que reside a importância para o chamado conjunto da obra. No fim das contas a apresentação, de intensidade brutal, é curta – uma desvantagem de turnês conjuntas -, mas seguramente ficam na memória ao menos a performance para “Ravenous”, com afiada cantarolagem da multidão, e o desfecho apoteótico com “Nemesis”, que reúne/resume tudo de bom que o metal e suas ramificações há séculos proporcionam: braços erguidos bradando alto em coreografia ensaiada.Set list completo
1- Deceiver, Deceiver
2- War Eternal
3- Ravenous
4- In the Eye of the Storm
5- House of Mirrors
6- My Apocalypse
7- The Watcher
8- The Eagle Flies Alone
9- Handshake With Hell
10- Sunset Over the Empire
11- As the Pages Burn
12- Snow Bound
13- Nemesis
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