O Homem Baile

Solto e convincente

Com convidados, Kiko Loureiro mostra trabalho solo e passeia por suas ex-bandas no festival Best Of Blues & Rock, no Rio. Fotos: Daniel Croce.

O guitarrista Kiko Loureiro reiniciando a carreira, agora com material solo e todo instrumental

O guitarrista Kiko Loureiro reiniciando a carreira, agora com material solo e todo instrumental

O que o povo que chegou mais cedo quer ver demora um pouco e só acontece no finalzinho do show. Até tem um ótimo aperitivo um pouco antes, o que só aumenta a expectativa que enfim se concretiza com a entrada do convidado que, de uns temos pra cá, raramente se encontra com o outro guitarrista, hoje anfitrião da noite. Juntos, eles formaram o núcleo criativo compositor de uma das bandas mais bem sucedidas do metal nacional tipo exportação, o que levou um deles a tocar – vejam vocês – por cerca de sete anos no Megadeth. É assim que ocorre o encontro de Kiko Loureiro com Rafael Bittencourt, na parte final do show de Kiko na perna carioca do festival Best Of Blues & Rock, no Vivo Rio, nesta sexta (21/6).

Juntos, com Rafael nos vocais, eles mandam uma ela versão de “Rebirth”, do Angra (que foi composta rapidamente, diz Kiko), a tal banda referência do metal nacional citada ali em cima, e o clima de ‘tá aí o que você queria” se instala. A música, com a bela e já tradicional introdução de violão dedilhado e solos de parte a parte, satisfaz plenamente as expectativas. Muito embora, a bem da verdade, uma da fase com André Matos, que nos deixou há pouco tempo, cairia melhor. Esse desejo, contudo, é contemplado mais cedo, primeiro com um medley instrumental de faixas do Angra, puxado pela clássica introdução de “Carry On”, e, depois, com – aí sim da fase André – “Notthing to Say”, com a participação do comediante Bruno Sutter. E não é que ele canta bem? Segurou todos os vocais agudos que só André Matos sabia fazer.

Kiko ao lado do baterista prodígio Luigi Paraventi, que toca com precisão e agilidade; olho nele!

Kiko ao lado do baterista prodígio Luigi Paraventi, que toca com precisão e agilidade; olho nele!

Você pode não ter se dado conta, mas o internacional guitarrista Kiko Loureiro, durante anos defendendo as cores do Angra e do Megadeth, gravava aqui e acolá um ou outro disco solo, essencialmente com material instrumental. Ao todo, já são cinco discos, fora um DVD gravado ao vivo, e vem desse material o bojo – metade das músicas - do repertório da noite. Uma das mais legais é justamente a que abre a noite, “Overflow”, single do disco mais recente, “Open Source”, de 2020. A música, pelo efeito cativante e formato de canção com ponte e refrão, coloca o guitarrista no rol de outros instrumentistas do rock pesado, como Joe Satriani e Marty Friedman, que inclusive participa em uma das faixas de “Open Source”.

Nessa turnê solo, Kiko tem variado a formação da banda de acordo com a disponibilidade dos músicos, podendo ter ex-colegas do Angra no palco. Para este show tocam Luiz Rodrigues (guitarra), Thiago Baumgarten (Hibria, baixo) e Luigi Paraventi (bateria), todos bastante técnicos e bem familiarizados com o tipo de som, tanto do Angra, quanto do trabalho instrumental de Kiko. Olho na precisão e agilidade de Paraventi, que tem futuro certo no metal nacional. Outro destaque é “Pau-de-Arara”, bela composição do disco de estreia solo, “No Gravity”, de 2005. A música é uma das que o guitarrista busca certo flerte com a música tradicional brasileira, característica, para o bem ou para o mal, pouco percebida nessa versão – mais enxuta, parece - ao vivo.

O humorista Bruno Sutter, convidado a cantar em 'Nothing to Say', do Angra, se sai muito bem

O humorista Bruno Sutter, convidado a cantar em 'Nothing to Say', do Angra, se sai muito bem

E do Megadeth, nada? De um modo geral o público pode até não ter percebido, e o malvado Kiko também não anunciou, mas foram executadas duas da banda referência no metal mundial. Primeiro – escolha óbvia para o formato, mas certeira – a instrumental “Conquer or Die!”, parceria de Kiko Loureiro com Dave Mustaine, em versão idêntica a gravada no álbum “Dystopia”, de 2016. Depois, “Killing Time”, também da dupla, esta cantada pelo próprio Kiko, em um notável esforço de se fazer parecer com o estilo vocal de Mustaine. Como a música, do disco mais recente da banda, “The Sick, the Dying… and the Dead!” (2022), tem forte sotaque pop/cativante, caiu muito bem. Mesmo com a plateia contemplativa na maior parte do tempo, no fim das contas o show, que serve de abertura para o Zakk Sabbath (veja como foi), é bastante convincente.

Set list completo

1- Overflow
2- Pau-de-Arara
3- Reflective
4- Vital Signs
5- Conquer or Die!
6- Meddley Angra
7- Nothing to Say
8- No Gravity
9- Killing Time
10- Rebirth

Rafael Bittencourt, da dupla com Kiko Loureiro no Angra, canta ao lado do guitarrista Luiz Rodrigues

Rafael Bittencourt, da dupla com Kiko Loureiro no Angra, canta ao lado do guitarrista Luiz Rodrigues

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