O Homem Baile

Repetido

Bom show do Suicidal Tendencies no Rio chama mais a atenção pela formação da banda e performance de palco do que pelas músicas em si. Fotos: Rom Jom/Rock On Board.

O figuraça Mike Muir, líder e único integrante remanescente da formação original do Suicidal Tendencies

O figuraça Mike Muir, líder e único integrante remanescente da formação original do Suicidal Tendencies

O incauto atravessa a rua já na madrugada da decadente Gamboa com um tom de embriaguez bradando a plenos pulmões nomes estranhos à região como “Join The Army” e “Suicidal Maniac”. Ausências cruciais, segundo ele, e com certa razão, em uma noite em que, vamos e venhamos, não era de se esperar muita novidade, até pelo histórico da banda que acabara de se apresentar em suas inúmeras vindas ao Brasil, desde 1994. Ausências sequer cogitadas enquanto o próprio incauto se debatia entra tantos outros no meio do salão, cheio à beça, ao som de “War Inside My Head” e “Possessed to Skate”. É assim, com público aeróbico, que transcorre com toda a normalidade o show do Suicidal Tendencies, do tipo “mais do mesmo”, na última sexta, na Sacadura 154, no Rio.

Isso porque a banda, ícone do skate punk californiano e depois do crossover metal hardcore, é um estranho caso de repertório que se renova menos que a formação, do ponto de vista da troca de integrantes. Para se ter uma ideia, todas as músicas tocadas são de 1999 para trás, e basicamente as mesmas das turnês mais recentes que passaram pelo Brasil (veja como foi em 2017). Já a formação vem com o chamariz de ter o ex-baterista do Slipknot e queridinho dos novinhos, Jay Weinberg, e o baixista prodígio Tye Trujillo, filho de quem você está pensando, o baixista do Metallica, Robert Trujillo, revelado, por assim dizer, pelo Suicidal. Ele mantém a pegada e o slap bass típico do groove original da banda – já faz tempo que ST e Infectious Grooves são a mesma coisa -, e Jay toca pra dedéu, em que pese aquela saudade de Dave Lombardo (Slayer), que estava na formação de 2017.

Mike Muir e o rascante guitarrista Dean Pleasants, integrante dos mais antigos, na banda desde 1996

Mike Muir e o rascante guitarrista Dean Pleasants, integrante dos mais antigos, na banda desde 1996

“Mais do mesmo”, contudo, não que dizer que o show é ruim, sobretudo para quem está frente a frente com o Suicidal pela primeira vez; ninguém perguntou, mas está escrito na cara de um monte de gente ali. Por isso é notável como o povaréu enlouquece com a rifferama pesada e agressiva da já citada “War Inside My Head”; em “You Can’t Bring Me Down”, que abre a noite em uma versão cheia de idas e vindas com mais de 10 minutos de duração(!); ou em “I Saw Your Mommy”, também esticada com direito a solos matadores de Dean Pleasants, o mais antigo dessa formação, exceto pelo chefão Mike Muir. Figuraça e com o modelito que lhe é peculiar, comanda o espetáculo com muito vigor, caras e bocas e trejeitos que são a imagem do inconsciente coletivo do próprio Suicidal Tendencies. Repete, inclusive, os discursos entre as músicas, não que isso faça diferença para quem circula no meio das rodas de dança sem fim no meio do salão.

Ruim mesmo é a versão com letras em português para “We Are Family”, que virou “Nós Somos Família”, cantada não por Muir, mas por Alex Palaia, da banda La Raza, com a participação de integrantes das bandas de abertura. Essa versão ganhou um clipe com vários bambambãns da cena punk/hardcore nacional, em uma das maiores patacoadas que se tem notícia na história do complexo de vira-latas que nos aflige. Ao vivo, é pior ainda. O palco volta a encher no desfecho, quando pessoas do público são chamadas para subir, o que já virou tradição para o Suicidal. Antes, o arremate musical, dentro do roteiro, é com a bela “How Will I Laugh Tomorrow”, espécie de “Stairway to Heaven” deles, emendada com “Pledge Your Allegiance”, pra todo mundo sair dali cantando “Esseti! Esseti! Esseti!”. No frigir dos ovos, mas um ótimo show do Suicidal Tendencies por essas plagas. Mas que dava pra variar esse repertório, isso dava.

Mike Muir canta ao lado do baixista prodígio Tye Trujillo, que segue os passos do pai, Robert Trujillo

Mike Muir canta ao lado do baixista prodígio Tye Trujillo, que segue os passos do pai, Robert Trujillo

Mais cedo, o DFC abalou as estruturas da casa com o veloz, mal-educado e inapropriado hardcore raiz da década de 1990, atirando pra todo lado, mostrando vitalidade para uma banda na ativa há tanto tempo. Antes, o carioca Pavio e a Eskröta, do interior de São Paulo, fizeram shows ligeiros e vibrantes. O primeiro na linha hardcore nova-iorquino e com letras bem contemporâneas para o estilo, mostrando renovação e sintonia com esses tempos estranhos. A segunda, com duas mulheres na formação (Yasmin Amaral, vocal e guitarra, e Tamyris Leopoldo, baixo), investe em um crossover com muito thrash/death metal e hardcore, e letras de viés feminista. As duas bandas, contudo, exageram na verve panfletária, o que é desnecessário, já que palco não é palanque e, em uma banda, as músicas falam por si.

Set list completo Suicidal Tendencies

1- You Can’t Bring Me Down
2- Lost Again
3- I Shot the Devil
4- Send Me Your Money
5- War Inside My Head
6- Memories of Tomorrow
7- Freedumb
8- Subliminal
9- Lovely
11- Possessed to Skate
12- I Saw Your Mommy
13- Nós Somos Família
14- Cyco Vision
15- How Will I Laugh Tomorrow + Pledge Your Allegiance

Com passagem recente pelo Slipknot, o baterista Jay Weinberg é o queridinho dos fãs mais novos

Com passagem recente pelo Slipknot, o baterista Jay Weinberg é o queridinho dos fãs mais novos

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