O Homem Baile

Igual, só que diferente

Guitarrista Andy Summers turbina clássicos do Police em mais um ótimo show do Call The Police no Rio. Foto: Divulgação.

callthepolice24A dupla baixista + guitarrista que se associa ao baterista do meio para o fundo do palco não é exatamente a mesma, mas o som encorpado de power trio que explode nas caixas de som, esse sim. A música, também, das mais conhecidas, chapa a plateia bem-comportada de modo a incrementar um crescente de participação no show que parece até planejado. Na verdade, são duas canções emendadas em um antigo artifício que, em uma noite de tinturas (amarelo, azul e vermelho) revivalistas, envelheceu muito bem. Uma delas, instrumental, foi até – vejam vocês – vinheta de uma rádio rock que mudou o mundo e cuja história recentemente virou filme. É assim que o Call The Police passa pela dobradinha “Can’t Stand Losing You + Reggata de Blanc” para um animado Vivo Rio, na última sexta, 2/8.

Explica-se que o tal trio, como o nome sugere, recria o repertório clássico do Police, tendo como grande atração, ao vivo e em cores, o guitarrista da banda, Andy Summers, além de Rodrigo Santos (ex-Barão Vermelho e mil e uma bandas) no baixo e vocais, e João Barone (Paralamas do Sucesso) na bateria. O que denota a formação de supergrupo que gira pelo Brasil e pela América Latina há pelo menos uns sete anos, sempre com boa resposta do público. Desta feita não é diferente, com um repertório bem concatenado que, associado ao gradativo consumo alcoólico na configuração de mesas da casa, impulsiona um crescente de animação admirável. Do consciente não hit “Driven to Tears”, que abre a noite, ao desfecho com “Every Breath You Take”/“Message in a Bottle”, a interação com a plateia é algo exponencial.

Não que seja Summers explosivo no palco, nunca foi, talvez ofuscado por músicos fora de série demais como Sting e Stewart Copeland. Ao contrário, mesmo agora, como o sujeito a ser venerado até – e principalmente - por seus novos companheiros de banda, seu carisma está em uma espécie de timidez hiper britânica que o deixa inclusive com certa dificuldade de falar com o público, mesmo em inglês; se não fosse assim, talvez não durasse tanto tempo no Police. O lugar de fala dele aparece na guitarra, e, aí sim, assume o protagonismo em boa parte das músicas, incluindo solos e evoluções inexistentes ou diferentes das versões originais, sem, contudo, descaracterizá-las por demais; o homem, indecifrável até a medula, tem a medida certa.

Acontece, por exemplo, em “Message in a Bottle”, agraciada com um alongado solo que faz de Andy Summers um guitar hero inimaginável em uma banda como o Police ou mesmo em sua vasta carreira solo e de participações em trabalhos de outros artistas; com 81, ele é 10 anos mais velho que Sting e Copeland. Ou em “Invisible Sun”, cujas paredes de teclados da gravação original é substituída pela sutileza/simplicidade de um som de guitarra que parece ter o tamanho exato para cada ocasião. Do outro lado, o sempre animadaço Rodrigo completa Andy replicando com certo groove as preciosas linhas de baixo do Police, além de cantar bem e sem cair na armadilha de imitar Sting, o que é ótimo. O dínamo João Barone, por sua vez, faz da precisão que lhe é peculiar a principal virtude ao tocar exatamente como Stewart Copeland em performance acima da média, mas até habitual para um baterista fora de série com ele.

O show é curto e é compreensível que seja assim, dado o implacável avançar de idades, mas bem que o repertório poderia variar de uma turnê para outra; é praticamente o mesmo em todos esses anos, com pouquíssimas alterações. Quem sabe a íntegra de um dos discos do Police + um bis com cinco ou seis hits de outros – são só cinco! - discos? Outros destaques da noite são “Tea In The Sahara”, de andamento lento, mas que curiosamente tem boa adesão do público; “King O Pain”, com uma ajudinha eletrônica de Barone, cantada pela plateia com certa emoção; a suingada/caribenha “Every Little Thing She Does Is Magic”, no desfecho do bis; e a já citada “Every Breath You Take”, um certeiro blockbuster que fala por si e fala muito alto em todas as épocas e lugares. Como o Police, aliás. Call, call The Police!

Set list completo

1- Driven to Tears
2- Synchronicity II
3- Spirits in the Material World
4- Walking on the Moon
5- De Do Do Do, De Da Da Da
6- Invisible Sun
7- Tea in the Sahara
8- King of Pain
9- Can’t Stand Losing You + Reggata de Blanc
10- Roxanne
11- Every Breath You Take
12- Message in a Bottle
Bis
12- So Lonely
14- Every Little Thing She Does Is Magic

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