Home DestaqueO Homem Baile

Merecia mais

Vivíssimo, The Mission toca clássicos, ‘não hits’ e música nova, mas show do Rio parece ter sido encurtado. Fotos: Amanda Respício.

O líder, guitarrista e vocalista do The Mission, Wayne Hussey, semprre agitando o público no Rio

O líder, guitarrista e vocalista do The Mission, Wayne Hussey, sempre agitando o público no Rio

No início da noite o quarteto já bota pra quebrar com três hits indeléveis, daqueles em que a plateia canta, vibra e se acaba pra valer. Agora, na meiúca do show, parece que é hora de testar músicas não tão conhecidas assim, mas que, por um motivo ou outro, merecem um espaço, mesmo em se tratando de uma banda com quase 40 anos de chão percorrido. A canção começa lenta, evolui e chega um desfecho instrumental de cair o queixo, à custa de um guitarrista jamais excepcional, mas sempre peculiar, e em muitos sentidos. Ao público – pequeno, é verdade – só resta o aplauso e ele vem em alto volume e desmedida empolgação. É assim que “Grotesque”, do The Mission, ganha batismo de fogo ao estrear no Brasil, na noite desta sexta (11/10), no Vivo Rio.

O guitarrista em questão é Simon Hinkler, um dos três remanescentes da formação original, mas que, curiosamente, não estava na banda na época da gravação da música, apenas participou como convidado, no longínquo ano de 2006. Ela faz parte de “God Is a Bullet”, oitavo álbum, que teve – ainda tem mais essa - partes gravadas no Brasil, ou seja, “Grotesque” tinha quer se tocada por aqui e a estreia arrebata geral. Hinkler, contudo, não fica nessa performance, mas meio que se destaca em toda a noite, reproduzindo o modo genuíno de tirar som de uma guitarra, marca registrada da banda, que, ao ser formada por metade de integrantes saídos do Sisters Of Mercy, lá pelos idos de 1986, precisava mesmo de um diferencial.

O guitarrista Simon Hinkler, destaque da noite, com o modo peculiar de tirar som de guitarrra

O guitarrista Simon Hinkler, destaque da noite, com o modo peculiar de tirar som de guitarrra

Senão o baixo marcante de Craig Adams iria dominar a cena como no Sisters, e este mesmo Adams está no palco balançando o corpo pra lá e pra cá como faz desde que se entende por músico, e ainda ajudando Wayne Hussey, o líder e responsável por tantas composições que marcam gerações. É bom vê-los juntos bem entrosados e tocando muito bem, sobretudo o raro repertório da época, ainda mais quando o show começa com a sequência matadora “Wasteland” + “Beyond the Pale” + “Serpent’s Kiss”, todas da fase inicial, a mais prolifica, emendadas umas nas outras. O que derruba o público em forma de cantoria, pula-pula e até explosão de papel picado(!). No fundo, o batera Alex Baum, há cerca de dois anos na banda, cumpre bem o papel, e passa no teste de fogo nas viradas de “Wasteland”, marca registrada de uma época.

Mas o show, espécie de vida após a morte, já que a turnê anterior era a de despedida (relembre como foi em 2022), tem espaço para ‘não hits’ e outros temas, muito embora o álbum mais recente deles, já com o trio de ferro reunido, o bom “Another Fall from Grace”, de 2016, não tenha sido prioridade. Dele, a bela “Met-Amor-Phosis” é escolha solitária, tem arranjo ligeiramente modificado e de certo modo surpreende o atento público. Nesse bloco do meio também se destaca a novíssima “Kindness is a Weapon”, que a banda lançou há menos de três meses, no meio dessa turnê. Escorada em um colante riff de guitarra, a música tem andamento cadenciado e flerta com o Mission raiz, do pós punk, e ao mesmo tempo com a careira mais bissexta da banda de uns anos pra cá, com realce – de novo – para Simon Hinkler; que sigam compondo mais.

O bom e velho baixista do The Mission, Craig Adams, mantendo a característica performance de palco

O bom e velho baixista do The Mission, Craig Adams, mantendo a característica performance de palco

O bloco final tem o desfecho com “Deliverance”, cuja estreia se deu nesta mesma cidade, no show de 1988, e que tem grande interação entre público e banda, com Hussey vindo à beirada do palco pra botar o público pra cantar. E também a melosa “Stay With Me”, essa sim com o tal do “singing alone” em alto e bom som. No bis, a esperada e exótica “Severiana” mata a pau, e “Tower of Strength”, espécie de bardo rural pós decadência hippie, que ao vivo cresce pra cacete, é um luxo! Pena que o show parece encurtado e a comparação com a turnê de 22 é inevitável. Com mais público e em um lugar menor, bem cheio, teve um bis e duas músicas a mais; consta repertório de até 22 músicas nessa turnê. O público bem que pediu, mas a banda não volta mesmo ao palco. Agora, além de não ter acabado na turnê de despedida, o Mission assume a dívida de retornar para uma apresentação maior. Será?

Set list completo

1- Wasteland
2- Beyond the Pale
3- Serpent’s Kiss
4- Swoon
5- Garden of Delight
6- Kindness is a Weapon
7- Like a Child Again
8- Met-Amor-Phosis
9- Grotesque
10- Stay With Me
11- Kingdom Come
12- Deliverance
Bis
13- Butterfly on a Wheel
14- Severina
15- Tower of Strength

Adams, Hussey e Hinkler: paisagem geral do trio de ferro do The Mission em ação no palco do Vivo Rio

Adams, Hussey e Hinkler: paisagem geral do trio de ferro do The Mission em ação no palco do Vivo Rio

Tags desse texto:

Comentário

Seja o primeiro a comentar!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado