Quando as luzes se apagam e dois vultos enigmáticos e cortinados por longas vestes e chapelões se aproximam do centro do palco, uma sensação estranha paira no ar, ao menos para quem está ali par ver a atração principal e chegou mais cedo, poucos, muito poucos, mesmo. Os pedestais são entrelaçados com rosas e, ao fundo, a bateria envolta em teias de aranha ou algo que o valha. O som da introdução é sombrio, sinistro, e, aos poucos, as vestes revelam figuras mais trevosas do que se espera, mesmo para quem conhece e sabe das origens do pós punk gótico do The Mission (veja como foi), a tal banda de fundo da noite. É nesse cenário que se anuncia a primeira apresentação do Christian Death no Rio de Janeiro, nesta sexta (11/10), no Vivo Rio.

A banda é do tipo que não tem integrantes da formação original, e hoje se resume a um duo formado por Valor, o mais antigo (início anos 80) e responsável pelo legado vivo da banda, por assim dizer, e Maitri, que entrou como baixista em 1991. Juntos, eles cantam e tocam todos os instrumentos, mas no palco contam com um baterista e um baixista/guitarrista que se reveza com eles. Mesmo sendo a primeira vez na Cidade, a banda opta por incluir nada menos que sete músicas do álbum mais recente, “Evil Becomes Rule”, lançado em 2022, o que é boa notícia para os incautos – muitos, aliás, alguns “dando um google” no meio do show -, dada as boas composições do disco e um sotaque notadamente mais acessível, quase pop, de algumas canções.

Caso por exemplo, de “Beautiful”, single cujo clipe é exibido nos telões. A música tem ótima evolução de guitarra e um refrão bem-acabado e fácil de cantar, até com certa doçura, na voz de Maitri, que se sai muito bem como cantora ao vivo, diga-se. Outra desse naipe, também do disco novo, é “Blood Moon”, esta na voz grave semigutural de Valor, com o apoio de Maitri no refrão, resultando na dicotomia graves versus agudos que costuma permear muitas bandas de metal contemporâneo. Não por acaso as duas aparecem coladas no show, realçando um dos grandes e mais acessíveis momentos da noite. Outras das recentes, no entanto, ganham versões ao vivo mais sombrias do que as do disco, caso de “Elegant Sleeping” e “New Messiah”, que aparecem coladas no início, e até são prejudicadas pela equalização do som, que parecia em teste.

Com o desenrolar do show, que dura cera de uma hora e 14 músicas, as coisas se ajeitam, o público aumenta com a chegada paulatina de mais gente e a banda supera os desafios iniciais. Tanto que se vê alguma empolgação também em “Rise and Shine”, essa com mais guitarras, quase metal, do meio para o final, ou mesmo na sinistra e densa “The Warrning”. O bloco final, incluindo um bis que quase não sai, tem “Face”, do clássico álbum “Ashes”, de 1985, numa versão menos dançante; “Church of No Return”, também mais pesada, com bons vocais de Maitri e solos de guitarra atualizados; e “This Is Heresy”, meio indigesta, mais arrastada, que acaba fechando o show no clima tenso do início. Mas com a vantagem de, no fim das contas, ter convertido mais alguns para a horda.

Set list completo

1- Elegant Sleeping
2- New Messiah
3- We Have Become
4- Forgiven
5- The Warning
6- Rise and Shine
7- Abraxas We Are
8- Beautiful
9- Blood Moon
10- Romeo’s Distress
11- Face
12- Cavity - First Communion
13- Church of No Return
Bis
14- This Is Heresy

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